Como? Ah, sei lá, aquela coisa de sempre. O namorado dela - você no caso, foi mal - já parecia um idoso com Alzheimer calado, letárgico e carrancudo, cujo único prazer mora na tríplice "carboidrato-cevada-paniquetes na tevê". Enquanto isso fomos apresentados formalmente. De início, "meu namorado pra cá, meu namorado pra lá", num manjado mecanismo de defesa contra caras legais. Depois de algumas piadas, um "você é engraçado". Aí, ela deu brecha pra uns conselhos, então brotou um "você me entende". Depois, um mero bilhetinho de bom dia grampeado na orelha de um bombom rendeu um "você não existe". Pronto, a maionese desandou e como salmonela entrei no pensamento da sua gata, mas não porque sou incrivelmente foda, mas como todo parasita, me fortifico em suas falhas. Acompanhou?
Já dá pra soltar meu pescoço? "Brou", segue meu raciocínio. Mulher é o seguinte. Sabe mosquito da Dengue, aquele? Pois é igual, só ela é a água. Não pode ficar parada, senão cria larva, saca? Então o namoradão cria a ilusão que ela é uma porcelana frágil, que não vive sem ele, e esquece que garotas são um coquetel bioquímico, refém de uma manada de sonhos, um bando de hormônios e sentimentos desconexos em rebelião constante. Isso, tipo um presídio de insegurança máxima! Muito bem, cara.
Mas não acabou, vem cá. Presta atenção, meu irmão! Mulher pode até inspirar sensaçãode inocência e fraqueza, mas é charme,vá por mim. Regra básica: sua garota só vai te amar se for amada primeiro. Seja gentil, pague a conta, ceda um pouco e mande um tanto, faça a moça sorrir. Depois deixa por conta da fantasia dela, sorrindo de lembrar bobices durante o dia ao ouvir uma canção de Nando Reis no rádio e sentir vontade de estar do seu lado pra vocês fazerem coisas juntos de novo. Porque afinal, é um prazer. O fato é que precisam admirar o namorado, capta?
Se dá pra reverter? Hum, vamos diagnosticar... quando tempo não a leva pra comer sushi depois de pegar um cineminha com o Richard Gere? E desde quando não elogia ela naturalmente, tipo o corte novo do cabelo que a deixou meio insegura ou a roupanova, os pés, os olhos, o sorriso? Vai dizendo aí, vou anotando aqui. E aquele abraço de homem protetor, tá em dia? De vez em quando ela chega em casa e tá tudo um brinco, cheirando uma comidinha leve e caseira? Velho, o troço tá feio aqui nas planilhas. Seil á, tenta uma carta, diz o quanto ela é especial, liste coisas do fundo do seu coração. Como assim, "tipo o que"?! Quem deve saber é você, é sua namorada!
Tá bom, me passa esse laptop, seu merda. Não, não, não, pernas bonitas o escambau, meu irmão. Pô! Corta mais profundo, pensa comigo. Você poderia falar que adora quando ela tá nervosa e fica fazendo e refazendo o rabo de cavalo, sabe? Não? E já notou que ela fica um amorzinho quando come salada e mastiga que parece um coelhinho? Hein? Não também? Ah, e quando ela pede pra ver se o absorvente tá marcando a calcinha, sabe? Não? É, nem eu... em frente! Hum... deixa eu ver... pensa aí também, ô brutamente! Vamos colocar que ela parece o balanço do mar quando caminha daquele jeitinho de molec, tipo uma bossa nova, ela adora Tom Jobim. Sabia não? Pois é, gosta.
Não é possível, estamos falando da mesma mulher? Por onde você anda, Meu? Depois não quer que ela venha me procurar, sei tudo que ela gosta e você comendo mosca! Mulher sozinha, carente de atenção é uma ambulância, cara! Depois sou eu quem não presto nessa história! Como assim, "onde eu penso que vou"? Termina você essa carta! Se vai vingar? "Brou", anota isso: mesmo que você siga todas as dicas, um cara como você, até mesmo um como eu, ainda vai errar.
Mulher é correnteza sem direção."
- Gabito Nunes -
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