14 de março de 2011

Para as minhas gêmeas.

     Acordei tão inquieta, parecia até uma tristeza. E ainda agora estou revirando coisas aqui por dentro tentando reconhecer que rosto é este que me angustia. Daí lembrei da data, é hoje que um avião vai levar vocês pruma paisagem tão distante. E vocês que são tão meninas, tão minhas meninas e a gente se viu tão pouco ultimamente. Eu sem saber conciliar meu exílio voluntário com a nossa intensidade juntas. E naquele sábado a noite em que ficamos conversando até tarde, adiando um pouco mais a despedida, tanta alegria, os assuntos todos sendo colocados em dia, nossos abraços cada vez mais apertados...
E é hoje, agora... vocês estão indo... e a saudade não assusta mais, mas ela aperta um pouco a garganta porque eu sei como vocês são peritas em saber fazer falta. Porque qualquer minutinho com vocês é tão repleto de entrega e paz e alegria. E aquela sensação de que os horizontes são tão mais amplos e que pode caber tanto entusiasmo em tudo. E agora eu me lembrei também de que vocês me pediram pra escrever sempre, e te mandar notícias, paisagens. E eu queria começar agora...


Lai e Lari,
Hoje é segunda-feira. O tempo está indeciso e meu coração meio nublado. Vezenquando um raio de sol recorta meu olhar. E eu sinto um pequeno alívio. Eu sei que vocês vão sentir falta de tanta coisa. Eu sei que vou sentir tanta falta de vocês. Mas nós sabemos que toda ousadia é uma forma de obter mais da vida. E vocês sempre fizeram isso lindamente. (Nem que fosse pra eu aprender que é possível desapegar-se repentinamente e voar.) Porque o mundo é tão imenso e as viagens pra dentro talvez sejam as mais longas. E nessas que fiz e estive ausente, tão ausente, vocês souberam escutar no meu silêncio a necessidade que eu tive de isolamento. E me amaram mais e melhor por esta honestidade. Porque vocês me conhecem no pequeno gesto. Me mande uma foto, sim? Por aqui, eu te prometo tentar fazer alguma coisa pra surpreender a mim mesma. Eu sei que vocês gostam de me ver plena, experimentando levezas. Eu sei que nunca haverá distâncias. Nunca houve. E que em pensamento estaremos em companhia: nos filmes que irei assistir no meu quarto, nos vídeos que fizemos juntas, numa foto em minha estante, no primeiro momento de medo, na total sensação de segurança, no raio de sol recortando a retina, na paisagem branca, na lua brilhando nos olhos. E vou dar mil passeios em Shoppings por vocês. E não mais sentir medo da felicidade, e ser vítima da minha auto-sabotagem, eu prometo.

Saudade das minhas "almas-gêmeas"

**
Marla de Queiroz (adaptado para nós três)

2 comentários: